Ousadia, determinação e consciência social estão entre as virtudes que fazem de Geyze Diniz uma personalidade única na sociedade brasileira. Conselheira da Península Participações, empresa de investimentos da sua família, e do Instituto Península, organização social da instituição, ela também integra o Conselho Social da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e atua como Vice-presidente do Conselho do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Com formação em Economia pela Universidade Mackenzie e com MBA pela Fundação Getúlio Vargas, trabalhou durante nove anos no Grupo Pão de Açúcar, sendo três anos como Diretora de Planejamento Estratégico. Em 2005, ingressou no Conselho de Administração do GPA, do qual fez parte até 2013. Em 2006, criou a marca de bem-estar Taeq. Nos últimos anos, dedicou-se ao Plenae, hub que desenvolveu com Abilio Diniz para compartilhar conteúdos sobre bem-estar, longevidade e qualidade de vida.
A sensibilidade e engajamento social, no entanto, podem traduzir melhor a garra de Geyze Diniz, que decidiu, após a pandemia, se engajar para colocar em prática o projeto “Pacto Contra a Fome”. “É um movimento da sociedade civil para atuar junto ao Governo contra a fome e o desperdício de alimentos. Quando a gente vê o momento em que o Governo do Estado lança o Ceará Sem Fome, a gente entendeu que existe uma oportunidade de fazer tudo aquilo que a gente acredita, que é acabar com a fome até 2030 de forma estruturante e permanente. A gente viu grandes oportunidades de trabalhar e fazer o piloto aqui no estado do Ceará, que é o primeiro estado onde o Pacto Contra a Fome entra com essa articulação junto ao Governo e toda a sociedade civil, além do setor empresarial, o terceiro setor, as ONG’s, a imprensa e a academia. A gente acredita que tem muitos saberes instalados. Precisamos juntar todos os esforços nesse sentido”, contou.
O engajamento cearense, através do Governo, foi elogiado por Geyze. “Orgulho de ter um governo que se preocupa com esse tema. O time envolvido é muito bom, muito competente e muito interessado. A primeira-dama, Lia Freitas, está muito engajada e tem realmente muito conhecimento. Além do fato de que estão abertos a receber o apoio da sociedade civil, independente de onde venha. Afinal, somos todos brasileiros. A abertura nos mostra uma forma de parceria. Ter essa parceria com o Governo nos traz mais sustentação para que a gente possa ter êxito no projeto piloto pelos próximos anos. O Pacto Contra a Fome faz uma articulação com todos os outros atores da sociedade civil. A gente trabalha muito com dados e evidências para ajudar a pautar políticas públicas. Todas as ações implementadas, do Governo e dos outros setores, são medidas para que a gente saber se está dando resultado e causando impacto. O objetivo é acabar com a fome”, destacou.
É preciso entendermos que apenas juntos vamos resolver esse problema, que é tão grande e complexo. O problema de combater a fome é nosso, de todos os brasileiros, todos os cidadãos.
O projeto encabeçado por Diniz fomenta a união de vários âmbitos públicos e empresariais. “O Pacto Contra a Fome nasceu com o desejo de criar conexão e sinergia entre todos os setores que já atuam com esse tema e precisam se conectar. Muitas vezes, a gente vê todos os setores trabalhando, mas que podem ainda não estar se conectando. O projeto nasce com a cocriação de vários autores e vem de um insight, um pensamento meu, de sermos um país que produz e exporta alimentos, muitas vezes joga no lixo, mas um país que tem fome. No meio da pandemia, chamei uma consultoria para fazer um estudo. Estive engajada em vários movimentos com cestas básicas, fazendo a entrega em vários projetos. Mas pensei ‘o que é a fome no Brasil? O que é o desperdício de alimentos? Como a fome ocorre e onde está? Como o desperdício se dá entre todos os elos da cadeia (produtiva)?’. Naquele momento, éramos 33 milhões de brasileiros com insegurança alimentar grave, o que significa que a pessoa não sabe o que comer hoje nem se vai ter o que comer amanhã. Pedi um estudo, analisei, me aprofundei para entender, ouvi muitas pessoas antes de ter a ideia e fazer o lançamento do Pacto cocriando. É preciso entendermos que apenas juntos vamos resolver esse problema, que é tão grande e complexo. O problema de combater a fome é nosso, de todos os brasileiros, todos os cidadãos”, refletiu.
Fome no Brasil
A complexidade social foi responsável pela sensibilização de Geyze Diniz. “Eram 125 milhões de brasileiros, na pandemia, com algum grau de insegurança alimentar. Mais da metade da população brasileira. E a gente joga no lixo um terço daquilo que a gente produz. Esse alimento produzido e que é jogado no lixo causa outro problema, porque é causador de gás de efeito estufa. Além de estar jogando no lixo um alimento que poderia ser utilizado e ser revertido para quem precisa ser alimentado, ele deixa de ser causador de impactos ambientes. Então, todos esses dados juntos nos trouxeram um alerta de que eu, como cidadã brasileira, ter acesso a esses dados e não fazer nada. Isso me chamou muito atenção. Atualmente, com os programas de transferência de renda, como Bolsa Família, e o emprego, que está com um nível baixo. Mas ainda são nove milhões de brasileiros que não têm o que comer todos os dias e 64 milhões de brasileiros com algum grau de insegurança alimentar”, explicou.
A diversidade de atores envolvidos no Pacto Contra a Fome visa efetivar as medidas do projeto. “Somos uma instituição suprapartidária, multissetorial, a gente conversa com todos. Precisamos compartilhar todos os dados e tudo que construímos é público. Há vários estados com programas de combate à fome. Estamos no estado do Ceará fazendo esse piloto completo. Esperamos ter bons resultados para poder levar para outros estados. Estamos no Maranhão e no Pará, fazendo uma parte de políticas públicas. A gente faz parcerias com todas as empresas, não apenas de alimentos, indústrias e varejo. Independente do segmento, precisamos entender que a fome é um problema de todos. Então, quem quiser entender basta acessar pactocontraafome.org”, pontuou.
A meta da iniciativa, segundo Geyze Diniz, é acabar com a fome de maneira sistêmica. “O projeto foi idealizado para ajudar o Brasil a sair da fome, um problema que nos assola desde sempre. Somos um movimento da sociedade civil para atuar junto aos governos no combate à fome e contra o desperdício de alimentos. Temos como meta, até 2030, nenhuma pessoa no Brasil com fome e, até 2040, todas bem alimentadas. O Pacto Contra a Fome, desde o começo, foi cocriado com todos os atores envolvidos, como governos, empresas, terceiro setor, ONG’S, universidades e imprensa, além dos cidadãos. O governo sozinho tem uma grande força, mas não resolve isso sozinho de maneira estruturante e permanente. Temos muita inteligência aplicada em todos os setores. É um trabalho conjunto para que a gente chegue em 2030 com nenhum brasileiro com fome. A gente acredita que todos os estudos que estamos fazendo são muito importantes nesse sentido”, concluiu.