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Imagine que você fosse um político corrupto e alguém o pegasse com a boca na botija. Imagine também que você soubesse que seus colegas de partido e seus adversários políticos fossem tão corruptos quanto você. O que você faria para se safar?
Talvez, uma boa estratégia envolvesse os seguintes passos:
1. Convença seus apoiadores que denúncias de propinas de empreiteiras ou rachadinhas, se forem contra você, são perseguições políticas, não questões de Justiça e combate à corrupção;
2. Argumente que qualquer um que o investigar e julgar só pode o estar perseguindo;
3. Fomente, ao máximo, a polarização política e a demonização de seus adversários. Eles, obviamente, só podem contra você por suas infindáveis virtudes ao defender seus apoiadores, que sem sua liderança iluminada, seriam massacrados por estas forças do mal. Assim, não importam as evidências seus aguerridos apoiadores estarão sempre a seu lado;
4. Denuncie e reverbere a corrupção de seus adversários políticos. Esta, talvez, seja a parte mais fácil. Eles estão tão enlameados quanto você. Encurralados, eles adotarão a mesma estratégia que você. Resultado? Mais polarização e um objetivo comum: impedir que investigações, julgamentos e punições avancem. Mais cedo ou mais tarde, novos ministros para as cortes superiores e lideranças para o Ministério Público terão de ser indicadas;
5. Aí, é só esperar a máquina a funcionar a seu favor. Com a classe política unida em uníssono contra o combate à corrupção, é só questão de tempo e você retornará redimido e, como a Fênix, com a plumagem mais exuberante do que nunca;
6. Em algum ponto, as investigações perderão sua independência política;
7. Em outro, a Suprema Corte – toda indicada por políticos - vai querer eliminar “excessos” – das investigações, é claro; não da corrupção. Daí a anular eventuais condenações será só um pulinho;
8. Gran finale: inverta os papeis. Transforme em bandido quem o investigou e julgou. Com apoio maciço de políticos da esquerda à direita, isso não será difícil. Com você e outros corruptos mais livres do que nunca e juízes e procuradores como réus, quem ousará investigar e punir corrupção neste país?
Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection, economista mais influente do Brasil segundo a Forbes e Influenciador nº 1 no LinkedIn.