Marcos Paulo Reis é um nome histórico no meio esportivo. Técnico das olimpíadas Sydney 2000 e Atenas 2004 no triatlo, representou o Brasil ao segurar a tocha olímpica na Rio 2016. Com tamanha experiência, ele coloca sua expertise em prática na MPR Assessoria Esportiva, da qual é fundador e diretor técnico. “Uma coisa que está acontecendo no Brasil. Quando a gente fala de futebol, que é uma grande modalidade, a corrida, hoje, é maior do que o futebol. Tem mais gente correndo e caminhando do que jogando bola. O País tem uma oportunidade única de aproveitar esse esporte tão social, que todo mundo gosta”, disse.

A importância do esporte foi mencionada pelo profissional. “Não importa o preço do tênis, todo mundo pode correr ou caminhar. A corrida virou o esporte de todos, da família, do filho, da mãe, do pai. Isso gera um pilar dentro de casa, que é diferente. A corrida está trazendo isso um pouco para dentro de casa. Todo mundo hoje corre porque é fácil, é acessível, não tem exame médico. Mesmo que você não procure uma assessoria, você pode começar a caminhar e, depois, a caminhar e a correr”, afirmou.

A MPR Assessoria, então, nasceu como meio de disseminar os conhecimentos adquiridos. “Com a minha experiência, eu criei essa história de assessoria esportiva no Brasil. Comecei lá atrás como se fosse uma padaria. Eu falava ‘faz isso, corre lá cinco minutos’. De repente, virou uma assessoria esportiva, são quase dois mil atletas no Brasil todo. Precisamos entender que as pessoas podem correr e, depois, passar no médico para ver que diminuiu o colesterol, diminuiu a pressão. É acessível. E o melhor de tudo: você descobre que criou uma filosofia de vida, que entra para dentro da família e vai para a comunidade, o que acaba impactando todos que estão ao seu lado. Quando eu falo de corrida, eu já vivi as competições dentro das olimpíadas, mas eu falo de uma forma diferente. Eu diria que Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, é o pilar dessa história toda, eu trabalhei com ele por dez anos. A corrida existe muito por conta da família Diniz, que lançou tudo isso no Brasil. E, hoje, todo mundo corre”, contou.

Equilíbrio esportivo

De acordo com Marcos Paulo Reis, os métodos de treinamento necessitam de ajustes para os êxitos das especificidades. “A faculdade nos ensina a trabalhar com atleta profissional, atleta olímpico, aquele cara que quer performar. Eu tive que adaptar tudo aquilo que aprendi na faculdade para o atleta amador, porque é um atleta que está começando a treinar e a viver o esporte. As pessoas estão vendo a olimpíada. O atleta profissional vive uma vida. O atleta amador tem a vida da família, de pagar suas contas. A vida do atleta amador, a competição do atleta amador e o treino são completamente diferentes. Ele não está performando, ele não tem uma pressão. Por isso que eu valorizo tanto o atleta de olimpíada, que tem uma pressão diária, de colocar a camisa do Brasil e saber que vai precisar fazer bonito senão ele vai ser criticado. Mas o atleta amador, não. Além da fisiologia, que é igual, mas tem métodos diferentes. Eu tenho que adaptar”, pontuou.

A adaptação requer cuidados e atenção para o sucesso nas tomadas de decisões. “Se vai treinar comigo, eu tenho que adaptar minha vida a você, à sua logística, à sua família, aos seus hábitos. Vou tentar mudar sua vida devagar e não vou poder te cobrar como atleta profissional. Não posso, nem devo. Eu não tenho essa paciência toda às vezes, não sou esse bonzinho todo (risos). Mas vou tentar criar a ferramenta da motivação para fazer com que você chegue lá. É muito legal você poder alcançar uma métrica, nem que seja, por exemplo, cinco quilômetros. O cara chegar em casa, o filho olha e fala ‘pai, isso é uma medalha? Que legal, eu quero também’. Para esse filho, o pai já virou herói e levou para a casa um hábito e uma filosofia nova. Eu adaptei e criei uma sistemática diferente para o atleta amador. Muita gente está feliz nessa prática. Fortaleza é hoje a segunda capital brasileira em número de corredores depois de São Paulo. O número de assessorias é enorme. Os produtos, maravilhosos. Seja no triatlo, na caminhada e na corrida”, refletiu.

A capital cearense foi elogiada por Reis. “A Beira-mar de Fortaleza não existe igual no mundo. Fico até arrepiado. Nunca vi coisa igual. Aquele calçamento com gente correndo para todo lado. E gente praticando esporte. As pessoas precisam olhar e ver que aquilo tudo representa algo fenomenal. Só o Ibirapuera, em São Paulo, parece com o que nós estamos vendo na Beira-mar. Não tem isso em outros lugares do mundo. Vai em Paris, não tem isso. Vai em Berlim, não tem isso. O Brasil faz diferente e está ensinando para o mundo essa coisa da corrida de rua. Temos circuitos maravilhosos de provas de rua em Fortaleza, em São Paulo. É uma felicidade total, ganha camiseta, ganha medalha, além de que faz amigos, conhece gente legal, que fala sobre corrida. Antes, o assunto era só futebol e cervejinha. Tudo bem que vai poder tomar a cervejinha, mas o cara chega no trabalho no dia seguinte feliz da vida dizendo que correu uma prova. No começo, vai ser novidade. Depois, aquele cara que não corre vai querer correr. As mudanças começam a ocorrer. E a pessoa descobre o equilíbrio que a corrida proporciona. Se você olhar o TikTok hoje, só tem a garotada correndo, é saúde pura”, analisou.

Sobre a performance do Brasil em Paris nas Olimpíadas de 2024, Marcos Paulo elogiou o êxito no triatlo, categoria que requer plenitude para 1.500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida. “Miguel Hidalgo entregou o melhor resultado de um brasileiro na história, foi o décimo do mundo em uma olimpíada. Ser décimo do mundo é um trabalho maravilhoso. É preciso destacar que o atleta brasileiro não está desamparado. Tem suporte, bons técnicos. Precisa, claro, de uma assessoria, que requer cuidado e detalhismo. Não é uma modalidade apenas como a corrida. O que Miguel Hidalgo fez nas olimpíadas foi extraordinário. Ele e o técnico dele, Marcelo Ortiz, estão de parabéns”, concluiu.