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E lá vamos nós de novo para mais uma edição do reality show mais amado, odiado, comentado e postado do Brasil. Quiçá, do mundo.
Pelo 23º ano, milhões de brasileiros ficarão até abril consumindo a vida, atitudes, erros, asneiras, fofuras e maldades de um grupo de pessoas que a maioria de nós nunca ouviu falar.
Apesar da futilidade como programa, do ponto de vista antropológico o “BBB” já foi, no passado, objeto de estudos acadêmicos ao redor do mundo.
Entre as teses, uma dizia que o telespectador se “identifica” com o que acontece com os participantes do jogo. E que ele se “coloca” na posição dos confinados a cada etapa, reagindo com simpatia a uns, e antipatia a outros.
Pode até ser, mas eu prefiro resumir de uma forma mais, digamos, direta e generalizadora: pra mim, quem gosta de BBB é gente fofoqueira.
É isso mesmo. Mas, por favor, não se ofenda. A fofoca tem uma importância primordial na evolução da civilização, mas sobre isso falaremos em outra coluna.
Uma coisa é certa. O BBB ainda é um enorme fenômeno. Mas que está em franca decadência, disso não há dúvidas.
Ok, do ponto de vista comercial, é o programa com maior faturamento da Globo, ali na casa do R$ 1 bilhão. Só que a Globo precisa dividir os lucros com a empresa holandesa Endemol Shine, dona do formato.
Então também já não é tãããão lucrativo assim.
O reality também é ainda o líder de ibope com folga, seja em qual momento for exibido.
Só que aí a decadência se mostra de novo.
Perto do fenômeno que já foi na década passada, o BBB 23 parece hoje um arremedo.
Entre a 1ª edição em 2001, e a atual, praticamente metade das TVs do país não sintoniza mais o reality show da Globo.
Antes que vocês argumentem que ‘muita gente’ está assistindo ao programa no Globoplay, já aviso: apesar de a Globo JAMAIS ter divulgado dados detalhados de seu serviço de streaming, sabe-se que seu público ainda é residual perto do da TV aberta.
O que pode ter causado e estar causando essa fuga de telespectadores?
Bom, só podemos conjecturar, pois não fizeram pesquisas (conhecidas) sobre isso.
Acho que muita gente apenas enjoou. Cansou das tramas e tramóias dos participantes, suas maldades, estratégias; de ser inundado dia e noite com parcas noções cultura, da falta de higiene, de educação etc. dos “brothers” e “sisters”.
O fato de estar no ar há 23 anos já permite que alguns participantes entendam aquilo como um jogo de verdade, e passem a atuar como se estivessem numa mesa de pôquer.
Em outras palavras: são mais calculistas e menos transparentes.
Outro motivo possível é o “tsunami” absurdo de reality shows na TV brasileira, sendo que 99% são importados.
Tem gente confinada em ilha, gente confinada em curral, gente confinada em mansão, no meio do mato, em caverna, no Alasca, com ex-namorados, pretendentes…
Parece que os criadores de realities chegaram a uma sinuca de bico e não conseguem inventar mais nada além disso.
Em todo caso, o BBB ainda terá alguns anos de vida pela frente, principalmente pelo sucesso financeiro que é.
Porque, do ponto de vista cultural e agora também do comportamental, não tem mais valor algum. Já encheu.
Por Ricardo Feltrin
@feltrinoficial