
Neste domingo (23), o corredor marroquino Jamal Soufane, conhecido por sua participação em competições de rua, foi agredido e sofreu uma tentativa de agressão física enquanto competia na Beira Mar de Fortaleza, Ceará. O atleta, que há anos representa o Ceará com muito orgulho, compartilhou seu relato nas redes sociais, expressando a surpresa e o desgosto pelo episódio, o qual classificou como um dos momentos mais difíceis de sua trajetória no Brasil.
Durante a Maratona de Bolsa, onde percorreu 36 quilômetros sob o intenso calor, Jamal enfrentou desafios físicos e emocionais. Nos últimos seis quilômetros, os “progressivos”, como ele descreveu, ficaram ainda mais difíceis devido ao calor, mas ele manteve sua força e determinação. No entanto, o que deveria ser um momento de superação tornou-se uma experiência traumática.
“Hoje tinha, sei lá, 10 mil, 11 mil, 20 mil pessoas aqui, mas duas dessas pessoas decidiram do nada me atacar”, relatou o marroquino. O primeiro incidente ocorreu enquanto ele corria pela Beira Mar, quando um homem se aproximou e tentou agredi-lo fisicamente. “Chegou um senhor, pulou em cima de mim, queria bater em mim. Graças a Deus tinham pessoas lá e não deixaram isso acontecer”, contou Soufane, aliviado pelo apoio de outros corredores.
O segundo episódio de hostilidade aconteceu pouco depois, quando o mesmo agressor e um amigo dele atacaram Jamal de uma forma ainda mais agressiva. “O amigo dele simplesmente empurrou a bike em cima do meu pé e começaram a me xingar, queriam bater em mim”, disse o corredor, que tentou entender o motivo da violência. “Eu perguntando, cara, o que eu fiz? Não, você empurra a gente. Cara, me fala, que dia que eu empurrei alguém?”
No entanto, o que mais abalou Soufane não foi apenas a agressão física, mas as palavras ofensivas e xenofóbicas que foram dirigidas a ele. “Palavras xenofóbicas muito pesadas, xingando minha mãe, minha família”, desabafou. Jamal afirmou que nunca havia se sentido tão mal tratado desde que chegou ao Brasil e escolheu o Ceará como sua casa. “Nunca me senti mal quanto me senti hoje”, confessou, refletindo sobre o impacto das palavras de ódio que recebeu.
Soufane, que vive no Ceará e se sente parte da cidade, refletiu sobre o episódio com pesar. “Eu estou aqui sozinho mesmo, com uma pequena família. Isso me preveniu de reagir hoje, de fazer alguma coisa”, explicou, revelando que a responsabilidade de sua postura vem do fato de ser estrangeiro no Brasil, o que o faz pensar antes de agir. “Eu sei que não adianta falar isso por aqui, não adianta você faz pior nada porque a gente já sabe o que acontece por aqui”, disse, ao reconhecer que, sendo de outro país, seria mais difícil para ele reagir com a mesma liberdade que um brasileiro teria.
Marroquino Jamal Soufane é agredido durante corrida na Beira Mar
Jamal também fez uma reflexão sobre o comportamento dos agressores, que, segundo ele, nunca agiriam da mesma forma com um membro da comunidade local. “Tenho certeza que esses caras, eles não iriam fazer isso com uma pessoa daqui, com uma pessoa daqui da comunidade”, afirmou, lamentando a diferença no tratamento por ser estrangeiro.
Apesar de tudo, o corredor marroquino fez questão de agradecer às pessoas que o apoiaram durante o incidente. “Eu quero agradecer todas as pessoas que chegaram lá, apoiaram, as pessoas que de alguma forma tentaram prevenir que alguma coisa ruim acontecesse comigo”, disse, agradecendo de coração.
Finalizando seu relato com uma mensagem de resiliência, Soufane reafirmou seu compromisso com o esporte e sua determinação em seguir em frente, independentemente das adversidades. “Obrigado de coração e vamos correr”, concluiu, demonstrando que continuará representando o Ceará e o Brasil com coragem e dedicação, apesar da experiência traumática. O episódio gerou uma onda de solidariedade nas redes sociais, com muitos atletas e seguidores expressando apoio ao corredor e condenando as atitudes xenofóbicas.
A Stark Assessoria Esportiva repudiou as agressões sofridas pelo atleta e classificou como inaceitáveis as atitudes dos envolvidos no episódio contra o marroquino. ” Hoje nos solidarizamos com nosso atleta Jamal Soufane, que foi vítima de agressão e xenofobia. No esporte não há espaço para violência, preconceito ou intolerância. Somos todos movidos pela mesma paixão e dividimos o mesmo espaço. Que o respeito continue sendo a base de tudo”, se manifestou a Stark em uma publicação nas redes sociais.
Homenagem na Alece
Em fevereiro deste ano, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) concedeu o Título de Cidadão Cearense ao corredor de rua marroquino Jamal Soufane. A cerimônia ocorrida no Plenário 13 de Maio, atendeu a requerimento do deputado Sargento Reginauro (União).
Para concessão da homenagem ao corredor de rua, o parlamentar argumentou, no projeto de lei n.º 584/24, que Jamal tem uma história de superação e dedicação que deve ser reconhecida. Para o deputado, o marroquino é mais que um atleta, é uma inspiração ambulante.
“A sua dedicação o levou não apenas a vencer o peso excessivo, mas também a conquistar o pódio em competições nacionais e internacionais. A sua história é uma marca de resiliência e seu compromisso com a excelência o coloca como ícone motivacional para todos que buscam superar seus desafios”, explicou.