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Um dos principais nomes da rádio cearense, Gomes Farias compartilha trajetória na comunicação

Conversando com o apresentador Ricardo Bezerra no programa Conexões, o jornalista falou sobre sua trajetória na comunicação e como iniciou sua grande paixão pelo rádio


Foto: Lino Vieira

Natural do Ipu, cidade no interior do Ceará a cerca de 300km de Fortaleza, o radialista e jornalista Gomes Farias se consagrou como uma das principais vozes da cobertura esportiva do Estado. Integrante da Jovem Pan News Fortaleza FM 92,9, emissora do Grupo Cidade de Comunicação, o radialista, boa de prosa, já passou por outras grandes rádios cearenses, como a rádio Assunção e a rádio Verdes Mares.

Conversando com o apresentador Ricardo Bezerra no programa Conexões, o jornalista falou sobre sua trajetória na comunicação e como iniciou sua grande paixão pelo rádio. Confira a entrevista: 

Ricardo Bezerra: Conta um pouco da sua infância, dos seus pais, dos seus irmãos. 

Gomes Farias: Eu nasci no Presídio, um “lugarejo” na subida da Serra da Ibiapaba, um lugar bucólico e maravilhoso, em 1937, apesar de haver controvérsias, porque já havia uma pessoa chamada Raimundo Gomes Farias. Quando eu nasci, o meu pai era meio sovina e minha mãe pedia para ele me registrar. Um belo dia, meu pai chegou para ela e disse que não ia me registrar porque já existia uma pessoa com o meu nome (risos). 

Meu pai era um ‘fazendeirinho’, com uns terrenos chamados “Lagoa do Mato”. Ele passava a semana lá, trabalhando,  e voltava no fim de semana para Ipu, onde a gente morava. Eu era danado, louco para brigar. Via um menino puxando carrinho de mão? Ficava na frente da minha casa esperando para dar um chute no carrinho (risos). 

Ricardo Bezerra: Eu vi que o senhor fala muitas palavras em latim. É verdade que você ia ser padre? 

Gomes Farias: Sim. Eu tinha um irmão na Escola Apostólica de Baturité. Eu tinha vontade de ser padre, porque meu irmão era muito bem tratado, mas meu pai dizia que não podia me colocar no seminário, porque era muito dinheiro. Então falei com o padre Francisco Ferreira de Moraes, contei a história para ele e ele disse que ia ver se eu conseguia ir. Mas então eu fui, foi o passo mais acertado que eu dei, porque lá se estuda demais. 

Ricardo Bezerra: Mas o por que o senhor largou?

Gomes Farias: Eu ajudava na missa todo domingo. O povo de Baturité ia à missa no seminário, subia a serra… E no meio dessas famílias, tinha uma menina que era a coisa mais linda do mundo. E eu olhava para a menina, ajudando na missa. E um dia eu olhei para ela e ela riu. Eu estava ajudando na comunhão, louco para ficar perto da menina. Não sei o nome dela. Então o padre me chamou e disse: “Raimundo, você vai ter que se confessar”. Fui me confessar, contei a história e o padre passou a penitência e terminou dizendo que minha vocação não era para ser padre. (risos). Quando eu saí do seminário, cheguei na cidade e pensei em me encontrar com a menina e me encontrei com ela. E disse que tinha deixado o seminário para casar com ela. E ela: “e eu quero?” (risos). Mas então ela disse para eu escrever para ela, mas para enviar para casa de uma amiga dela. Então, fiz a primeira carta e sem resposta. Fiz a segunda, fiz a terceira…

Ricardo Bezerra: O senhor chegou a se formar? 

Gomes Farias: Na faculdade de Direito, eu tirei o terceiro lugar. Só havia faculdade de Direito, Medicina e Engenharia. Me formei em Direito em 1973, exerci criminalista, adorava defender o réu. Quando o rico matava, contratava um advogado de renome. E quando o pobre matava, contratava a gente. Mas então optei pelo rádio. 

Ricardo Bezerra: Mas quem lhe colocou no rádio?

Gomes Farias: Eu era criança e meu pai comprou um rádio, o telefunken andante, que funcionava com bateria de caminhão. E eu só queria ouvir música. Quando meu pai foi na fazenda, eu mexi no rádio, mexi no ponteiro e fui parar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro. E eu, com sete anos na época, ouvi uma narração de futebol e, o que mais me impressionou, é que o narrador não descansava, fazia propaganda. Então eu decorei tudo e foi aí que eu disse que queria ser assim. Comecei narrando de brincadeira, em Ipu. Ouvindo a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, eu ficava gritando gol (risos). De lá, fui no seminário, e se eu tirasse nota boa, tinha direito de ouvir o futebol no rádio. Eu tirava 10 então para ouvir o jogo.

Ricardo Bezerra: Mas qual foi a sua primeira aparição, sua primeira frase dita no rádio?

Gomes Farias: A primeira vez foi na transmissão de jogo do Fortaleza versus Ceará, na inauguração da Rádio Dragão do Mar, em 1958. “Alô, amigos e desportistas de todo o Brasil”, foi a minha primeira frase. Eu entrei na Rádio porque ela resolveu fazer concurso para radialista para todos os setores. Meu primo me incentivou a fazer o teste, mas eu me tremia todinho de medo. Mas então fiz o teste, transmiti um gol, o segundo gol, fiz um comentário, respondi perguntas e, quando eu saí, me disseram que eu tinha passado. Eu me recordo que tinham 460 candidatos para locutor esportivo. Desses, passaram só nove. Dos nove, ficaram cinco, depois três… 

Ricardo Bezerra: Mas que história é essa que você torcia Fortaleza? 

Gomes Farias: Eu cheguei em Fortaleza e fui morar na casa de um tio e ia para o futebol com o meu primo. Então decidimos que cada um ia torcer para outro time, para podermos discutir. Então eu escolhi torcer para o Ceará. Na época não havia briga, oxalá ainda fosse assim. E um dia, após um jogo, ia ter um forró na sede do Fortaleza. Então a equipe foi, e lá se vai, comida e bebida até de madrugada. Mas então, quando chegou a conta, uma ‘lapada’. Mas então a gente poderia não pagar se a gente tirasse foto com a camisa do Fortaleza (risos).  Mas não tem nada demais você torcer para o Fortaleza, é uma potência do nosso futebol, o promovo como posso. 

Ricardo Bezerra: O senhor por acaso narrou o jogo que o Santos veio jogar em Fortaleza, com o Pelé, e o Ceará ganhou dos Santos?

Gomes Farias: Sim, narrei. Outro grande jogo que eu narrei do Pelé foi a partida do Brasil contra o Paraguai, na Copa do Mundo. 

Ricardo Bezerra: O senhor se sente realizado? 

Gomes Farias: Quando o cidadão fala que está realizado, é porque ele entregou os pontos. Tem sempre um sonho a mais. O que eu gostaria ainda de conquistar é algo que peço a Deus para me dizer, porque no momento, estou muito feliz com o que consigo fazer. Mas eu daria um conselho para aqueles que querem ser narradores. Precisamos fabricar narradores, porque hoje em dia a televisão tem uma força muito grande. Então se você for ver jogo pela televisão, você não será um narrador de rádio. O narrador tem que dar a emoção na própria voz. E isso a televisão não vai ensinar nunca. 

 

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