HOME Notícias
"O paradoxo do 'ativo sedentário'", por Breno Leal Lima

A inatividade física, segundo a OMS, é o quarto fator de risco para a mortalidade mundial

Foto: Dara Torres (Foto: Bleacher Report)

Que o exercício físico traz benefícios à saúde, todos devem saber. Talvez a frase, juntamente com a miríade dos benefícios, deveria estar antes de qualquer prescrição de treino. A prática de atividades aumenta a expectativa de vida, torna o envelhecimento melhor e pode diminuir as chances de ter doenças relacionadas ao sedentarismo.

Um estilo de vida com atividades de endurance pode atenuar a tendência em aumentar o peso durante a meia idade, enquanto que o peso corporal de pessoas que deixam a prática de exercícios aumenta comparado àquelas que continuam fisicamente ativas. 

Quanto à tendência de aumento do peso corporal com a idade, pode ser creditado ao menor nível de índices hormonais (como os hormônios testosterona e de crescimento) associado às alterações relacionadas com a idade no biotipo.

O comportamento sedentário, por outro lado, importa riscos que podem levar às chamadas "doenças silenciosas" como diabetes, cardíacas e metabólicas. A inatividade física, segundo a OMS, é o quarto fator de risco para a mortalidade mundial.

O acúmulo de gordura se dá de forma prolongada. À medida que o comportamento sedentário se repete e domina a maior parte do tempo de vida das pessoas, o sobrepeso e a obesidade passam a se tornar um resultado deste comportamento de risco. Considerada uma epidemia, a obesidade deve ser combatida com alteração no estilo de vida, a promoção de atividades físicas que gerem algum esforço está diretamente ligada ao tratamento bem como minimizar o tempo em atividades sedentárias. 

Contudo, existe uma população que mantém os dois comportamentos, ativo e sedentário. 

Uma pessoa pode tanto ter o mínimo recomendado de atividades físicas por semana e de acordo com Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM), que são as 3 horas de atividade aeróbia e 2 vezes na semana de treinos de força, como também esta mesma pessoa pode ter um tempo prolongado de hábitos sedentários, por exemplo, ficar em pé ou sentado ou deitado viajando, lendo, estudando, trabalhando. 

Desta forma, ela pode estar na classificação de uma pessoa ativa, mas também estará incluída na de uma pessoa sedentária. Portanto, analisar apenas o tempo em atividade ou o dispêndio em comportamento sedentário certamente irá gerar controvérsias.

Então, praticar o mínimo necessário de uma atividade ou seguir um programa regular de treinamento é bem provável que não dará um "passaporte" para um trabalhador médio ficar de 4 a 8 horas seguidas em determinada posição (sentado ou em pé). 

Ainda que o trabalho exija uma demanda cognitiva, o desgaste energético fica abaixo do que é considerado uma atividade que altere o metabolismo de repouso. Na outra ponta, os trabalhos domésticos ou trabalhos que exigem relativa disposição física podem contribuir como atividades de baixa intensidade e que podem melhorar as taxas metabólicas, colocando esta população um passo à frente daquela.

Em estudos citados num artigo de revisão (CRISTI-MONTERO et al, 2014), foi indicado que apesar de cumprir o tempo recomendado em atividade física para a idade, o tempo exagerado dedicado às atividades sedentárias vão interferir nos benefícios à saúde. 

No artigo, é citado um estudo indicativo para uma saída. Foi observado em um grupo de indivíduos com sobrepeso ou com obesidade, que quando interrompido a cada 20 minutos o hábito sedentário - no caso, a pessoa saía da posição sentada e caminhava leve a moderadamente por 2 minutos -, diminuíam os níveis de glicose e insulina pós prandial (aquela indicada após as refeições), reduzindo o risco cardiovascular.    

Devemos ficar atentos ao que estamos fazendo com o nosso corpo. Nos atemos ao treinamento físico em si, à reposição de nutrientes e eletrólitos, mas sem conseguir diminuir ou a manter um tempo prolongado atividade sedentária, pode colocar tudo a perder. 

Fazendo uma analogia com a alimentação, seria como assim que acabasse um longão, a pessoa fosse comer um X Tudo ou tomar bebidas alcoólicas em exagero. 

Então, a mensagem aos atletas amadores que trabalham em atividades excessivamente sedentárias é procurar interromper de tempos em tempos a sua posição de trabalho através de uma atividade capaz de algum esforço como uma caminhada ou algumas flexões, quem sabe, ainda que aquele treino da manhã ou do pós-serviço esteja certo e bem feito.

A preocupação deve estar em quem emprega, quem está empregado e o sistema governamental de saúde. Os benefícios da atividade física não podem perder terreno aos malefícios do sedentarismo.

PUBLICIDADE