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Sthela Regadas compartilha a sua história e o amor pela Medicina, o ensino e a pesquisa

Nascida em Codó, no Maranhão, filha de José Marcolino Jr. e Amélia Murad da Cruz, a cirurgiã colorretal Sthela Maria Murad Regadas faz história em sua área, não só no Brasil, como no exterior. Além de um currículo extenso no exercício da Medicina e na carreira acadêmica, ela também desenvolveu técnicas diagnósticas com a utilização do Ultrassom Anorretal Tridimensional, sendo a primeira máquina na sua especialidade em toda América.

Entre as suas características mais marcantes, o amor pela família e a dedicação aos seus pacientes fazem dela um nome com igual destaque no livro da vida de muitas pessoas, sejam familiares, amigos, pacientes ou alunos. 

E para conhecer um pouco mais sobre a Dra. Sthela Regadas, a frisson traz abaixo uma entrevista exclusiva.

 

Frisson: Conte um pouco da sua história de vida profissional.

Sthela Regadas: Primeiramente, gostaria de agradecer pela oportunidade de poder expressar um pouco do que vivenciamos no nosso dia a dia.

Eu nasci numa cidade no interior do Maranhão, Codó, filha de José Marcolino Jr. e Amélia Murad da Cruz. Tenho quatro irmãos. Aos 11 anos, fui estudar na capital do Maranhão, em São Luis. Fiz o Curso de Medicina na Universidade Federal do Maranhão-UFMA, o qual iniciei aos 18 anos. Em seguida, veio a residência em Cirurgia Geral, ainda em São Luis (MA). Mas, em 1996 e 1997, fiz a residência médica em Coloproctologia, em Fortaleza. Nesse período, casei com Sérgio Regadas (em 1997), com quem tive duas filhas, Carolina e Marina Regadas. Também cursei o mestrado (1999) e o doutorado (2004) em Cirurgia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). O pós-doutorado (CAPES) foi em Cleveland Clinic/ Florida (2008-2009).

Atualmente, sou  professora Associada IV de Cirurgia Digestiva do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará (UFC), chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Universitário Walter Cantídio- HUWC- UFC, responsável pelas pesquisas clinicas e cirúrgicas do Serviço de Coloproctologia do HUWC-UFC, membro titular da Sociedade Brasileira de Coloproctologia-SBCP, sócio honorário da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Minimamente Invasiva; maestra de la Coloproctologia Latinoamericana; member of the ASCRS Work Group Clinical Consensus Statement: Pelvic Floor Ultrasound, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia -SBCP - 2018-2019, honorary fellows of the American Society of Colon and Rectal-ASCRS e Revisora Ad Hoc da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Além disso, opero no Hospital Universitário Walter Cantídio e atendo em clínica.

Já no campo científico, tenho 105 trabalhos publicados; seis livros publicados; 56 capitulos de livros; 689 trabalhos apresentados em Congressos; 26 prêmios recebidos; 200 trabalhos em Anais de Congressos; corpo editorial de revistas Nacionais e Internacionais; 25 participações em Bancas de Mestrado e 15 articipaçóes em Bancas de Doutorado.
http://lattes.cnpq.br./8022426727672340
 
Frisson: Quem te inspirou a seguir essa carreira com tanto êxito e assertividade?

Sthela Regadas: Eu tive a felicidade de ter um mentor ao longo de toda a minha formação de vida. Meu pai era médico, cirurgião, estudioso, pesquisador, professor, dedicado, um dos seres humanos com uma bondade imensurável em tudo o que fazia e pude conhecer e conviver. Sempre o admirei: suas atitudes, dedicação ao próximo e profissionalismo como conduzia cada paciente.

Agradeço ainda àqueles professores, dedicados, que nos ensinaram a ser médicos com ensinamentos científicos e, também, nos ensinaram a ter dignidade, honestidade e ética na nossa vida profissional.

Frisson: Como se deu a escolha pela Coloproctologia?

Sthela Regadas: Sempre quis ser médica e especialmente uma cirurgiã, sem medir esforços para alcançar essa minha realização profissional. Naquela ocasião, uma mulher cirurgiã representava uma luta. Havia nítidos preconceitos por essa especialidade exercida por mulheres, entre os professores, colegas e os pacientes. Isso tudo nunca foi um motivo para se quer pensar que poderia escolher uma “especialidade mais adequada ao sexo”. Fiz os dois anos de cirurgia geral e, somente no segundo ano, decidi a cirurgia colorretal. Então, segui em mais dois anos de especialidade. Durante a residência em cirurgia geral, tive dois professores que vibravam com a cirurgia colorretal e que muito me incentivaram para essa escolha.
 
Frisson: Seu histórico de pacientes apaixonados é extenso. A que você atribui esse sucesso na sua área?

Stela Regadas: Tenho uma relação de vínculos bem estabelecidos com os meus pacientes. Eles sentem que exerço a minha profissão com amor, por amor, e dedicação, por isso trilhamos juntos, tratamos juntos, partilhamos as dificuldades, qualquer dimensão que seja. Mantenho-me o mais próxima possível do meu paciente. Quero que se sinta cuidado e acolhido, com humanização, mas mantendo sempre a ética profissional.  
 
Frisson: Você desenvolveu uma técnica pioneira em cirurgia colorretal que proporciona mais conforto ao paciente. Conta para a Frisson como foi desbravar esse caminho com a laparoscopia nas cirurgias de intestino. 

Sthela Regadas: A primeira cirurgia Colorretal Laparoscópica na America Latina foi realizada aqui em Fortaleza, por um importante professor, promissor, que desenvolveu e contribuiu  muito na nossa especialidade, o Prof. Sergio Regadas, em outubro de 1992. Foi um grande avanço na nossa especialidade. A cirurgia pelo acesso Laparoscópico resulta em excelentes resultados para tratamento cirúrgico das doenças benignas e malignas do intestino.

Eu desenvolvi técnicas diagnósticas com a utilização do Ultrassom Anorretal Tridimensional, sendo a primeira máquina na nossa especialidade em toda América. Chegou ao Brasil em 1998. Temos utilizado no diagnóstico de doenças benignas e malignas anorretais e nas disfunções do assoalho pélvico. Atualmente, somos um centro de Treinamento em Ultrassom Anorretal Tridimensional, em toda a America, incluindo America Latina e também alguns países da Europa. Temos a máquina mais moderna do mundo, lançada há 2 meses. 
 
Frisson: A humanização do seu atendimento é sentida pelos pacientes. Como lidar com diagnósticos difíceis, como o câncer, no seu dia a dia, mantendo o profissionalismo e a empatia dos pacientes?
 
Sthela Regadas: Sinto que estar ao lado do meu paciente, mais ainda, lutar ao seu lado, tentar vencer todas as dificuldades. Peço a Deus muita força e energia para estar ao lado dos meus pacientes e para que eles possam sentir o quanto são importantes para mim, quanto estou lutando com eles e que podem contar comigo e com a equipe que trabalhamos juntos.
 
Frisson: O câncer de intestino tem ficado em evidência na mídia recentemente. Casos como o do Chadwick Boseman (Pantera Negra), Pelé, Roberto Dinamite, Simony e Preta Gil repercutiram muito. A que você atribui o aumento do número de casos? Quais recomendações para exame preventivo?
 
Sthela Regadas: De acordo com INCA (Instituto Nacional de Câncer) a estimativa para 2023: o tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).

Fatores de risco bem estabelecidos; história familiar de câncer colorretal; história de câncer em outra localização; doença inflamatória intestinal acima de 10 anos; história de pólipos adenomatoso na família. Outros fatores são mencionados como de risco. No entanto, os estudos não descrevem o quanto (percentual) que esses fatores de risco contribuem para desenvolvimento da doença: idade acima de 45 anos; dieta (rica em carne vermelha, processadas, e gorduras); sedentarismo; obesidade; tabagismo.

O aumento no número de casos se deve principalmente a omissão dos exames de prevenção, em pacientes sem sintomas, e especialmente no grupo de risco. Assim como a demora em procurar o especialista nos pacientes com sintomas.

A colonoscopia pode ser considerada o exame de prevenção na população de risco, a partir dos 40 anos; e naqueles com sintomas de alerta, como o sangramentro anal (maiores de 40 anos) e outro sintomas.

Na população em geral, sem inclusão de grupos de risco, e sem sintomas, a colonoscopia deve ser realizada a partir dos 45 anos
 
Frisson: A colonoscopia é um exame invasivo que traz o diagnóstico de muitas doenças. Em que casos você recomenda esse exame? Tem a ver com a idade do paciente?
 
Sthela Regadas: A colonoscopia é um dos exames de maior importância na nossa especialidade. È preventivo, identifica lesões pré-malignas, assim como possibilita realizar a retirada dessas lesões impedindo a transformação maligna.

Na população em geral, sem inclusão de grupos de risco, e sem sintomas, a colonoscopia deve ser realizada a partir dos 45 anos .

No grupo de risco (história familiar de câncer colorretal; história de câncer em outra localização; doença inflamatória intestinal acima de 10 anos; história de pólipos adenomatoso na família) a colonoscopia deve ser realizada a partir dos 40 anos. Esta recomendação serve para pacientes com sintomas intestinais, como sangramento nas fezes, diarreia, dificuldade de evacuar e dor abdominal.

Frisson: Como você alinha a vida acadêmica e a prática da Medicina? Qual o curso você ministrou na Flórida recente? Fale um pouco desse momento.
 
Sthela Regadas: Na vida devemos buscar o que nos realiza como ser humano e realizar de forma equilibrada (o que não é fácil). Sempre quis construir uma família saudável, então casei, tenho duas filhas, filhos do meu marido e sobrinhas que compartilhamos juntos a vida. Na vida profissional, cuidar do paciente, se possível poder transformar, oferecer uma condição melhor é muito incrível. Como não AMAR E AMAR. Na Academia, ensino e pesquisa me fascinam, estão dentro de mim, amo ensinar. Sou professora da graduação e da pós-graduação. Ensinar para mim é um aprendizado constante. Meus alunos são fantásticos, cheios de energia em busca de aprendizados.  

Ainda na minha vida profissional, eu construi muitos laços de amizade, tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis, pude transformar para melhor, fiz parte da formação de muitos especialistas. Pensar que poderia ser mencionada nas páginas do livro da vida de algumas pessoas me marcaram para sempre.

No fim de tudo, eu vivo para esses três objetivos na minha vida: família; atendimento ao paciente e ensino e pesquisa. Isso é o meu trabalho, é o meu lazer e me fascina, realiza e energiza. 

Sobre curso recente, eu estava ministrando o Curso de Ultrassom Anorretal Tridimensional (acima mencionado). Temos um Centro de Treinamento, ministramos Cursos aqui e somos convidadas para ministrá-los representando toda a América e alguns países da Europa também. Essa é uma modalidade diagnóstica muito importante na nossa especialidade que orienta nas decisões de tratamento de forma mais adequada.

Fotos: Lino Vieira

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