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Fotógrafo subaquático, Ruver Bandeira deseja mostrar os mistérios do fundo d’água pela fotografia

Professor e fotógrafo subaquático premiado, Ruver Bandeira começou na fotografia como uma forma de mostrar para os amigos suas recordações

Foto: Lino Vieira

“Busco através da fotografia também educar o cidadão para que possamos ter um ambiente mais preservado e belo”. Professor e fotógrafo subaquático premiado, Ruver Bandeira começou na fotografia como uma forma de mostrar para os amigos suas recordações, mas encontrou na arte uma paixão e um talento. 

Hoje, especializado em tirar fotos debaixo d’água, e colecionando prêmios nacionais e internacionais, o fotógrafo busca mostrar um pouco do que está debaixo d’água, não só para desvelar os mistérios do mundo subaquático, mas para sensibilizar as pessoas da existência desse universo para uma maior preservação. 

Confira a entrevista:

Frisson: Como você se aproximou da fotografia? Pode relembrar com detalhes, quantos anos tinha, como foi sua primeira experiência…

Ruver Bandeira: Minha aproximação veio através de minhas primeiras viagens, quando eu buscava mostrar através da fotografia as belezas naturais que estava vendo para familiares e amigos. Queria registrar toda aquela natureza incrível. Eu tinha 27 anos de idade e, para mim, era incrível a sensação de guardar em um papel, a imagem que meus olhos contemplavam

Frisson: E como ela se transformou na sua profissão? Lembra qual foi seu primeiro trabalho? 

Ruver Bandeira: Na verdade, não considero como minha principal profissão. Sou professor da rede pública do município de Fortaleza e do estado do Ceará, e tenho na fotografia uma paixão, assim como tenho amor e vocação pela educação. Busco através da fotografia também educar o cidadão para que possamos ter um ambiente mais preservado e belo. A brincadeira ficou mais “séria” em 2012, quando foi publicada uma foto minha como capa da maior revista de mergulho do país e da América Latina na época. Meu primeiro trabalho em revista aconteceu através de fotos para um artigo especializado em mergulho no ano de 2010, sobre o Parque Estadual da Risca do Meio. Eram registros de um antigo avião naufragado.

Frisson: Você se especializou em fotos subaquáticas. Como você conheceu e experimentou essa modalidade pela primeira vez? 

Ruver Bandeira: É minha especialidade sim, e experimentei essa atividade em 1998, quando fiz minha primeira viagem ao Arquipélago de Fernando de Noronha. Lá, me apaixonei pelo mergulho e pela fotografia sub. Eu queria registrar tudo que via no mar, estava completamente encantado.

Frisson:Quais são os desafios e dificuldades do gênero? 

Ruver Bandeira: Os desafios começam pelos custos, que são elevados. Mergulhar é relativamente uma atividade de custos significativos, principalmente os equipamentos de mergulho, na grande maioria importados. E com o dólar em alta, dificulta ainda mais a difusão em massa dessa incrível atividade. No caso da fotografia, os equipamentos também necessitam ser adaptados para sua utilização na água, o que requer mais gastos ainda, sem contar com a falta de apoio privado ou público para o desenvolvimento da atividade em determinadas cidades do nosso país.

Frisson: E quais são as belezas da fotografia subaquática? O que essas fotografias subaquáticas mostram que outros gêneros não conseguem?

Ruver Bandeira: O mais incrível é poder ver todo colorido e riqueza da fauna e flora subaquática, seja ela marinha ou de água doce. “O mundo silencioso” como dizia Jacques Cousteau, representa cerca de 71% do nosso planeta e conhecemos muito mais do Universo do que dos próprios oceanos. Sendo assim, busco mostrar o que poucos conseguem ver.

Frisson: Debaixo d’água, há diversos fatores que não é possível controlar. Como lida com essa falta de controle? 

Ruver Bandeira: Na fotografia subaquática, é essencial se ter um bom controle de flutuabilidade, lembrando que submerso, precisamos ter cuidado para não danificar nem a flora e nem tão pouco a fauna local. Para isso, um bom curso de mergulho, treinamento adequado e prática são essenciais para o bom exercício da atividade.

Frisson: Você já ganhou diversas premiações. Pode citar algumas delas? 

Ruver Bandeira: Os mais importantes foram: nacionalmente fui bicampeão do PRIME BRASIL de foto subaquática anos 2015/17 - Categoria Master; Campeão do Concurso Nacional ABISUB /Rede Biomar 2021; Campeão do Concurso Nacional Mar de Budiões 2021; Campeão do Concurso Nacional A Década do Oceano - Meros do Brasil 2022 – Categoria Sociedade e Oceano; Internacionalmente fui bicampeão do GRAN PREMIO IMASUB ONLINE – Maria La Gorda 2020/21; Medalha de prata no grande concurso mundial 7th Mares Underwater Photo Marathon 2019; Finalista do Concurso Mundial 35 AWARDS INTERNATIONAL PHOTOGRAPHY AWARD 2021 e 2022 (Ficando entre os 50 melhores fotógrafos do mundo na categoria subaquática).

Frisson: Já ocorreu algum episódio marcante, seja um susto ou algo inesperado, que valha a pena relembrar? 

Ruver Bandeira: Sim. Em 2016 estava mergulhando em Isla Mujeres, no México, com o objetivo de fotografar tubarões-baleia que fazem migrações no final do primeiro semestre nesta região. Na tentativa de fazer um registro da boca do enorme peixe se alimentando de plâncton, acabei ficando no meio da passagem do mesmo sem ter tempo hábil de sair da frente e acabei me chocando com um exemplar de aproximadamente 8 metros. Foi como esbarrar numa parede, mas tive a sorte de não me machucar e também de não machucar o peixe. Foi um grande encontro que ficará sempre na minha recordação.

Frisson: Pretende seguir com essa modalidade sempre? Há novos planos para ela? 

Ruver Bandeira: Sim, porque quando amamos aquilo que fazemos, temos a certeza que estamos no caminho correto para encontrar nossa felicidade profissional. Amo a educação e a fotografia e gostaria bastante de ter um maior reconhecimento local, visto que sou bem mais conhecido e valorizado na atividade da fotografia subaquática em outros estados brasileiros e até mesmo no exterior, do que em minha cidade. Não tenho nenhum patrocínio, nem tão pouco ajuda de custo para cobrir gastos com viagens para competições ou adquirir melhores equipamentos, porém com amor e dedicação estamos sempre buscando fazer o nosso “melhor” representando, assim, de forma honrada, nosso estado e nosso país nos concursos nacionais e internacionais.

Frisson:Qual acha que é o papel social da fotografia? E qual o papel da sua fotografia?

Ruver Bandeira: A fotografia é uma das mais importantes invenções da humanidade, pois é um meio que nos permite recordar de acontecimentos passados e atuais. Através dela, podemos conhecer lugares, pessoas e histórias com muito mais vivacidade do que quando dependíamos de quadros pintados e relatos antigos. Ela pode dar asas à nossa imaginação. O meu papel na fotografia é de poder, através das imagens que registo com a luz (a matéria-prima essencial da fotografia), mostrar, não somente o quanto é belo o meio subaquático e o meio ambiente como um todo, mas principalmente indicar que o mesmo é sensível e precisa de nossa divulgação para sua preservação. Assim, quem sabe as futuras gerações terão também o privilégio de poder contemplar e usufruir de tamanha beleza.

 

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