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Endocrinologista Ana Flávia Torquato esclarece sobre saúde pós-pandemia; confira entrevista

A endocrinologista conversou com a Frisson sobre a nova saúde que vem surgindo na pandemia

 

Foto: Lino Vieira

Formada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a endocrinologista Ana Flávia Torquato tem uma presença marcante nas mídias e redes sociais. Defensora da vacina, a médica atende no Hospital Universitário Walter Cantídio, onde consegue exercer a medicina junto a estudantes, e na Clínica Essence por Haim Erel.

A endocrinologista conversou com a Frisson sobre a nova saúde que vem surgindo na pandemia, incluindo a modernização da área e a revelação da necessidade de uma vida mais saudável. 

Confira:

Frisson: Pode resumir sua trajetória acadêmica e profissional? Onde você trabalha atualmente? 

Ana Flávia Torquato: Me formei em Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC) e fiz residência médica em Boston, nos Estados Unidos, onde morei por 6 anos. Fiz residência de Clínica Médica, e depois Endocrinologia e Metabologia na Boston University. Em 2014, de volta a Fortaleza, me tornei Endocrinologista do Hospital Universitário Walter Cantídio, onde tenho a oportunidade de atender casos complexos e desafiadores, bem como ser preceptora da residência de Endocrinologia, de Clínica Médica, e de estudantes de Medicina da UFC. Sempre tive interesse na área acadêmica. Também atendo em consultório privado, na Clínica Essence por Haim Erel.

Frisson: Você é mestre em farmacologia. Como essa área dialoga com a endocrinologia? 

Ana Flávia Torquato: O tempo que passei estudando e pesquisando na área da Farmacologia me acrescentou muito conhecimento em mecanismos de ação de medicamentos e efeitos colaterais, o que é fundamental para todo médico clínico, que lida diariamente com a prescrição de fármacos. A endocrinologia estuda a fisiologia dos diversos hormônios do corpo, as doenças hormonais e o metabolismo humano. Em comum com a armacologia, a endocrinologia precisa de um bom conhecimento em ciências básicas, como a bioquímica. Apesar de exigir bastante conhecimento técnico, exercer a endocrinologia exige também humanidade, saber ouvir, saber aconselhar, ou seja, exercer com arte e amor a medicina. É necessário ter uma visão global da saúde e do corpo, por isso é uma especialidade tão complexa e apaixonante!

Frisson: A endocrinologia trata de temas como o Hipotiroidismo, diabetes e outras questões. Quais são os principais motivos que levam seus pacientes a buscar um endocrinologista atualmente? 

Ana Flávia Torquato: Os problemas endocrinológicos mais comuns são: excesso de gordura (ou obesidade), diabetes, alterações de colesterol, e problemas de tireóide. É muito frequente o paciente ter mais de um motivo para procurar um endocrinologista. Além disso, a minha consulta sempre inclui ações para melhorar a saúde e a prevenção. Saúde é um estado completo de bem estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doenças.

Frisson: A pandemia transformou a sua área e deu abertura à saúde 4.0. Como tem sido sua experiência com esse tipo de medicina? 

Ana Flávia Torquato: A pandemia de Covid-19 expôs algo que sabíamos há muito tempo: o estilo de vida moderno está adoecendo as pessoas precocemente! A pandemia mostrou mais claramente que portadores de doenças associadas a um estilo de vida ruim são mais suscetíveis e têm risco elevado de morbi-mortalidade. Assim, muitas pessoas ficaram mais preocupadas em buscar saúde, e tentar manter um estilo de vida mais saudável. Praticamente todos os meus pacientes têm essa preocupação, embora o grau de esforço para colocar em prática seja bem heterogêneo entre eles.

Ao mesmo tempo, a pandemia possibilitou a realização de consultas on-line, que foram permitidas pelo Conselho Federal de Medicina desde o início da pandemia, e a utilização de ferramentas tecnológicas é uma realidade cada dia mais comum. Uso sim, prontuário eletrônico, e vejo que praticamente todos os laboratórios e clínicas de imagem hoje tem seus resultados on-line. Na verdade eu já tinha essa prática desde o período que morei nos Estados Unidos, e a tendência vai ser de avançarmos cada vez mais neste campo tecnológico!

Frisson: Houve algum aumento no diagnóstico de doenças causadas por estresse desde o começo da pandemia? 

Ana Flávia Torquato: A pandemia tem tido um impacto devastador na saúde mental das pessoas, atendo grande número de pessoas com transtorno de ansiedade, sintomas depressivos, e insônia. Não tenho dados concretos, mas a partir da minha observação pessoal, acredito que o principal impacto da pandemia, excetuando-se a própria Covid-19, foi na saúde mental, inclusive de crianças e adolescentes.

Frisson: O isolamento tem feito as pessoas ganharem peso, por estresse, solidão e outros motivos. Quais as dicas para conseguir manter hábitos saudáveis na pandemia? 

Ana Flávia Torquato: É verdade que muitas pessoas ganharam peso! A principal dica são as escolhas alimentares, preferir comprar alimentos naturais, como frutas, verduras, legumes, e alimentos ricos em fibras. A gente come o que a gente tem em casa, então é importante planejar com cuidado as compras em supermercado e os pedidos de entrega de restaurantes! Recomendo evitar comida ultraprocessada, açúcar, frituras e excesso de carboidrato refinado. Além disso, é importante manter uma rotina, organizar os horários de alimentação, de sono e atividade física, muita gente ficou sem rotina durante o período do isolamento.

Frisson: Uma das preocupações da vacinação  contra o novo coronavírus têm sido as pessoas com alguma comorbidade. Como você observa a relação de comorbidades com os casos graves da Covid-19? 

Ana Flávia Torquato: Certamente, várias pesquisas mostram uma associação entre presença de obesidade, doenças cardíacas, diabetes, imunossupressão, e outras, com o maior risco de desenvolver Covid grave.

Frisson: O movimento anti-vacina tem sido tema quando pensamos em saúde pública. Você ativamente defendeu a vacinação em suas redes sociais. Qual você acha que é o motivo que leva as pessoas a terem medo da vacinação? 

Ana Flávia Torquato: Acho que são vários fatores, o principal acredito que seja o medo por desconhecimento em relação a possíveis efeitos colaterais da vacina. Sabemos que o risco de complicações ao contrair a Covid é imensamente maior que o risco de desenvolver reações sérias com a vacina. Acredito que em alguns casos os fatores seriam egoísmo, preguiça e ignorância! Nos Estados Unidos, onde a vacina é amplamente disponível, a grande maioria das mortes se concentra em não vacinados. A vacinação de todos é a nossa chance de superar a pandemia!

Frisson: E qual a importância da vacinação contra Covid-19, principalmente em um país como o Brasil?

Ana Flávia Torquato: A descoberta e utilização ampla das vacinas foi um dos maiores avanços da história da Medicina.  Graças à vacinação, houve uma queda na incidência de várias doenças que costumavam matar milhares de pessoas, como coqueluche, sarampo, poliomielite e rubéola. As vacinas são substâncias muito seguras, cujo propósito é prevenir doenças graves, e evitar que elas se disseminem! Quem não se vacina não coloca apenas a própria saúde em risco, mas também a de seus familiares e outras pessoas com quem tem contato, e contribui para aumentar a circulação do vírus. 

No Brasil, a vacinação em massa é fundamental para frear a pandemia de Covid 19, especialmente tendo em vista o grande impacto social e o grande número de mortes que tivemos. Como não existe remédio eficaz contra a COVID-19, a vacina é a única esperança hoje de superar a pandemia no Brasil e no mundo.

 

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