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Estilista e co-criador do Dragão Fashion, Josenias Júnior acredita na identidade da moda

O estilista conversou com a Frisson sobre sua trajetória, a influência da pandemia na moda e seus próximos objetivos, que incluem a criação de uma marca própria. Confira

Foto: Renan Pinheiro/Divulgação

Amante das expressões artísticas por meio do vestir, Josenias Junior começou a paixão pela moda ainda criança. Filho de costureira e decidido em investir em sua paixão como carreira, Júnior conseguiu ir longe. Começou como auxiliar de estilo em uma loja de jeans e logo cresceu no ramo, atendendo outros clientes, se profissionalizando e conquistando seu espaço no mercado cearense. 

Em pouco tempo, se tornou exclusivo a um cliente e, em sua empresa, criou a marca Florinda, onde trabalha até hoje como estilista mais antigo e co-diretor criativo. 

O estilista, que também é co-criador do evento Dragão Fashion, conversou com a Frisson sobre sua trajetória, a influência da pandemia na moda e seus próximos objetivos, que incluem a criação de uma marca própria. Confira: 

Frisson: Qual foi o seu primeiro contato com a moda?

Josenias Júnior: Sou filho de costureira. Nasci entre moldes, tesouras, linhas e agulhas e, logo cedo, comecei a dar opiniões nas roupas que minha mãe costurava para mim. Mas isso ainda não foi o começo da minha carreira profissional. Isso só veio acontecer anos depois, depois de ser auxiliar de oficina mecânica do meu pai, vender quadros que eu pintava, a dar aulas de Karatê… Tudo até descobri minha vocação profissional.

Frisson: Você iniciou sua carreira como auxiliar de uma empresa de jeans, certo? Pode nos contar um pouco da sua trajetória até onde você está hoje? 

Josenias Júnior: Quando descobri minha vocação, cursei Desenho de Moda no Senac e, de lá, tive a oportunidade de ser auxiliar de estilo na que na época era uma das maiores empresas de jeans do Ceará.

Lá trabalhei por dois anos e saí para dar consultoria de estilo para empresas menores no mercado junto com um sócio e chegamos a atender diversas empresas. Com o passar dos anos, segui o trabalho sozinho e com outros profissionais, que foram meus auxiliares na época e que hoje estão em carreiras solos bem sucedidas. Um desses clientes que eu atendia com consultoria de estilo comprou todos os horários dos outros clientes, me tornando exclusivo de sua marca. 

Antes desse acontecimento, criei o Dragão Fashion com outros estilistas do mercado, e o Produtor e estilista de eventos Claudio Silveira, mas minha permanência no evento só duraram quatro anos consecutivos, e depois em algumas edições especiais. Hoje o evento é propriedade e mentoria criativa e administrativa do Claudio Silveira, onde o evento segue hoje com seus 20 anos de sucesso. E eu segui meu caminho como estilista, criando a marca Dona Florinda na empresa que me contratou com exclusividade.

Frisson: Quais são suas inspirações no mundo da moda?

Josenias Júnior: O comportamento humano, ruas, cores, arte, dança tudo é inspiração, gosto muito em particular das intervenções de arte urbana com roupas.

Frisson: Você é criador e estilista da marca Florinda. Como foi a criação da empresa e quais valores e estilos você valoriza nela?

Josenias Júnior: Sou o criador e o estilista mais antigo da marca, onde hoje divido a direção criativa com a estilista Melina Mastroianni. Criei a marca para fazer parte do Dragão Fashion, e ela se encontrou em um momento do mercado onde a empresa que me contratou ansiava por uma marca nova com frescor, pra entrar no mercado de varejo. Dessa forma, me foi oferecido participação nos lucros da marca. Os valores que a marca acredita, seja você mesma, da alma livre e coração aberto, respeito ao cliente, 

Frisson: Como é o mercado da moda no Ceará? Há grandes nomes por aqui?  

Josenias Júnior: Essa é uma boa pergunta, porque o mercado de moda hoje se confunde com o mercado de roupas, e isso pode até ser parecido, mas são distintos. Hoje há muito mais preocupação em fazer roupa a qualquer custo do que se criar uma marca com personalidade forte, com rosto e voz no mercado. 

Outro fator preocupante que percebo, em minha restrita opinião, é a morte lenta da indústria de confecção. Não temos mais no mercado indústrias verticalizadas que detém desde processo criativo da roupa até o envio de produto para o lojista. Eu sei que falar disso vai de contramão ao que muitos empresários pensam, de reduzir custos e enxugar suas estruturas. Também compartilhei desse pensamento por anos, mas hoje percebo que isso nos fez abrir mão da DNA de qualquer produto. 

Passamos a terceirizar criação, corte, costura, acabamentos e tantos outros processos, que no final de tudo se tinha um Frankenstein nas mãos, com qualidade questionável e, o mais preocupante, sem a cara da marca, pois não se trata de se ter uma marca, mas de fazer roupa por roupa. Por isso essa enxurrada de imagens em redes sociais que, se ocultar o nome, você não consegue dizer quem é quem, pela falta de identidade forte. É claro que um assunto como esse tem diversas abas a serem discutidas microscópicamente. Não é regra, e existe, sim, nesse processo, alguns exemplos que se destacam e merecem respeito, mas são pouquíssimos. 

Frisson: Você também é co-criador do Dragão Fashion Brasil. Qual é a proposta do evento? 

Josenias Júnior: Sim, esse é outro assunto bastante extenso, mas vou tentar resumir um pouco. O Dragão já tem mais de 20 anos de sucesso, eu passei pouco tempo no Dragão Fashion. No início, uns quatro anos, e depois em algumas edições em especial.

Esse evento foi criado não só por mim, mas também por muitos estilistas na época, que acredito ser importante citar eles aqui, pois sem a alma e o talento deles no evento não teria existido. Talvez eu não lembre de todos, mas os que iniciaram realmente tiveram relevância na construção da moda cearense e no nascimento o Dragão Fashion, como: Lindebergue Fernandes, Anastácio Jr, Ayres Junior, Ascânio Wanderley, Carlos Capucho, Leo Macedo, Cabeto, Cassio Caldas, Cabral, Rejane Castro… Cito eles aqui como forma de reconhecimento e gratidão.

O evento tinha e tem até o hoje Cláudio Silveira no comando, responsável por toda imagem e estrutura e organização do evento e, sem ele, o evento jamais alcançaria essa grandiosidade que o evento chegou. Meu papel no Dragão encerrou-se quando tive que escolher entre sem produtor de eventos junto com o Cláudio Silveira ou seguir minha carreira de estilista. Minha ideia como co-criador do Dragão era dar oportunidade a novas mentes criativas a terem o seu espaço autoral e isso foi feito. Até hoje o Dragão Fashion Brasil segue os mesmos valores.

Frisson: Como a pandemia pode mudar a moda? Há alguma relação existente?  

Josenias Júnior: A pandemia nos trouxe uma lente de aumento sobre cada um de nós, seres humanos e instituições, seja ela formal ou informal, e isso trouxe a real necessidade de reavaliação acerca de todas nossas verdades. Isso aconteceu em todos os setores e com a moda não foi diferente, todos se viram obrigados a voltar pra linha de largada, nivelando todos na mesma régua. A partir daí, não adiantava os anos de background, pois tudo seria novo para todos, e o que mais diferencia a partir daquele instante seria a capacidade de abertura para o novo, se despedindo de velhas crenças e abraçando um novo mundo, onde na maioria dos casos o analógico passou a ser digital, e por sua vez o digital se tornou emocional.

Frisson: Como empreendedor, como acredita que a pandemia mudou sua forma de conduzir os negócios?

Josenias Júnior: A pandemia nos fez sair da zona de conforto, achar soluções mais próximas e de baixo impacto financeiro e social. Aprendemos que temos que conhecer nosso cliente antes mesmo de achar que tem o produto certo pra ele. Nos fez perceber que o produto está diretamente ligado ao emocional. Ensinou que nossas verdade precisam ser revisitadas, e que a pandemia só serviu pra mostrar novos valores.

Frisson: Que dicas você daria para pessoas que desejam investir no segmento?

Josenias Júnior: No segmento de roupa, moda, confecção?! Não faça roupa por roupa, crie valores para sua marca, e acredite em você, pois sempre existirão quem não acredita e que vai lhe pôr pra baixo.

Frisson: Além da moda, você também investiu na corrida, chegando inclusive a criar a Sunrise Run Brasil. Pretende profissionalizar esse lado e investir de alguma forma na carreira?

Josenias Júnior: (Risos) A Sunrise Run Brasil nasceu de um treino com meu amigo Rebouças Jr.. Sabe aquela corrida pra fazer uma limpeza na mente, apreciar o meio e não a chegada? Pois é, ela nasceu assim, de um processo de liberdade emocional.

Foi tão bacana que duas semanas depois levamos outros amigos, e aí surgiu a ideia de fazer um evento para mais amigos. Teremos agora em setembro uma segunda edição, e será também uma forma de comemorar meu aniversário, ainda muito restritra, com número limitado de atletas por conta dos protocolos e saúde e bem mais organizada. Seria hipocrisia dizer que não pretendo investir nisso, pois é mais uma coisa que faço por que amo.

Frisson: Quais são seus próximos objetivos na carreira?

Josenias Júnior: Queria ser mais criação e menos execução. Percebi que acumulei muitas funções no decorrer de minha carreira profissional, ao ponto de não me perceber mais como criador. Saber fazer um pouco de tudo não é problema, porque isso é conhecimento, e isso é bom, mas não se pode achar que o fato de ter conhecimento faz um bom executor de tudo, e eu me deixei cair nessa armadilha. Meu sonho ou objetivos no futuro é ter uma equipe que me ajude a construir novos projetos, e que também tenha sonhos grandes pra dividir.

Estou começando uma nova marca chamada BANANA URBANA - Tropical Denim, é um projeto novo, um sonho. Uma marca que tem responsabilidades sociais e ambientais. Um jeans que tem como essência a brasilidade de nosso povo, no jeito acolhedor, no tom na pele, no sorriso, na dança, na arte, com uma preocupação de trazer pra dentro dela culturas de diversas dimensões. É fato que venderemos o produto físico, a roupa, como a sintetização de tudo isso, mas estaremos sempre preocupados em ter as histórias, os valores.

Frisson: O que é a moda, e por que ela é considerada arte? 

Josenias Júnior: Moda nunca foi roupa. Nós a vemos como tal, mas a moda é a expressão de um época, ou de um estado emocional, político, cultural, escrito no tempo em forma de roupas e cores. Por que ela é considerada arte? Quando criamos, formas e cores se harmonizam, somos livres pra expressar amor, dor, protesto, criatividade, é arte por que nos permite uma linguagem que o mundo todo entende

 

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