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"Video fake de Anitta fazendo sexo marca 'era de horror' na internet", por Ricardo Feltrin

Foto: Divulgação 

Nas últimas duas semanas um vídeo explodiu em visualizações em redes de mensagens como WhatsApp e Telegram.

O vídeo mostrava a cantora Anitta em cena de sexo com um homem cujo rosto não foi mostrado (apenas “aquilo” dele).

A peça causou furor na internet porque, seja quem for que a tenha visto, teria certeza “absoluta” de que de fato ali estava uma das cantoras mais famosas do país em plena atividade sexual em quatro paredes.

Confesso que eu mesmo tive certeza que era Anitta. 

Afinal, a artista gosta de “causar” em assuntos privados / sexuais e ainda por cima tem um perfil no Onlyfans –a famosa rede social erótica e paga.

Só deixei de acreditar quando um estudioso e especialista em vídeos verdadeiros ou falsos, Bruno Sartori (@brunnosarttori), veio desmascarar a farsa em um “post” em meu Twitter.

Aliás, farsa, não. Farsa profunda, ou “deepfake”. 

Guardem essa palavra porque vocês não vão mais parar de ouvi-la a partir de agora.

Bruno mostrou como a mulher que realmente está no vídeo original é uma atriz pornô russa de 29 anos. Até certo ponto, ela até é parecida com Anitta, sim.

Mas, não era Anitta. 

Por meio de software e bons equipamentos, algum expert (seria um bolsonarista com ódio da cantora que declarou voto em Lula?) fez a “magia digital” de inserir o rosto da cantora no filme pornográfico.

O especialista Bruno ainda captou uma minúscula falha na montagem (imperceptível a leigos, como eu); mostrou também como esse mesmíssimo vídeo já foi usado com outras celebridades, como as atrizes Angelina Jolie e Naomi Scott.

Não por acaso, todas em versão morena e com certas semelhanças físicas com as da atriz pornô russa.

Há uma lógica por trás desse software: tudo que é digital pode ser manipulado. Imagens são pixels. Tudo é baseado no famoso sistema binário em que qualquer informação pode ser resumida a dois números: 0 e 1. Então “trocar tudo de lugar” parece mesmo possível.

O problema é que a qualidade dessa manipulação avançou tanto que acaba de superar os olhos humanos e seus limites perceptivos.

Esse é um marco do terror para a internet. 

Talvez o mais assustador e perigoso desde a popularização da própria internet, a partir de meados dos anos 90, quando imagens nojentas de pedofilia inundavam qualquer sala inocente de bate-papo.

A partir de hoje, qualquer um de nós (sejam jornalistas, donas de casa, empresários, professores, políticos etc) poderá ser alvo desse tipo de difamação e humilhação pública.

Como a internet se tornou um território de linchadores e insanos, provavelmente a vítima não terá nem chance de provar que foi alvo de manipulação por meio de uma montagem  “deepfake”.

Até conseguir mostrar a verdade,  já terá sido achincalhada, cancelada e linchada nas redes sociais, em seu emprego ou no bairro em que mora.

Imaginem o terror que pode se tornar a vida de um inocente qualquer com o rosto inserido, por exemplo, em um vídeo de pedofilia. Ou de estupro. Ou de um assassinato.

Imaginem um candidato qualquer, concorrendo a um cargo eletivo, ter sua imagem vinculada a um vídeo de crime encomendado por um inimigo, e sem possibilidade de defesa…

Imaginem isso ser feito com sua filha ou filho, vítima de um(a) ex-namorado(a) inconformado(a) ou apenas com péssima índole. 

Talvez nestas eleições isso ainda não ocorra, dado que são tecnologias e técnicas relativamente novas e ainda na mão de uns poucos experts.

Mas, desconfio que as próximas corridas eleitorais serão um campo de guerra de barbárie e assassinato de reputações por meio digital.

Como mostra a evolução da tecnologia, é questão de (curto espaço de) tempo para que esses softwares fiquem cada vez mais baratos e mais fáceis de usar.

Acredito, sinceramente, que o que acaba de acontecer com a Anitta será lembrado como um divisor de águas (imundas) nas vidas de todos nós. 

Se já vivíamos o tempo todo sob o risco de sermos atacados por “haters” nas redes sociais,  esse risco acaba de subir vários degraus.

O que podemos fazer: multiplicar o cuidado com nossos julgamentos. 

Afinal, chegamos ao ponto em que não podemos acreditar mais nem mesmo em nossos olhos.

Na próxima coluna vou continuar a tratar desse assunto horroroso, porém que inevitavelmente teremos de conviver de hoje em diante.

Por Ricardo Feltrin 

@feltrinoficial

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