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Diretor do Mosteiro dos Jesuítas, padre Eugênio Pacelli acredita na universalidade do catolicismo

O padre conversou com a Frisson sobre seu posicionamento sobre o catolicismo e sua missão como sacerdote

Foto: Lino Vieira/Divulgação

A trajetória do padre Eugênio Pacelli sempre foi voltada à religião. Disciplinado, teve a certeza de que gostaria de se tornar padre aos 12 anos, quando estudou no colégio Santo Inácio, em Fortaleza. Mestre em Teologia, diretor do Mosteiro dos Jesuítas, em Baturité, e colunista, o padre é delicado nas palavras, certeiro em suas ideias e fiel à sua paixão: a religião. 

O padre conversou com a Frisson sobre seu posicionamento sobre o catolicismo e sua missão como sacerdote. Ainda, compartilhou um pouco sobre os ensinamentos da bíblia. Confira a entrevista: 

Frisson: Como sua vida se direcionou ao catolicismo? Há influência da família e do local?

Padre Eugênio: Eu venho de uma família religiosa e ao receber o leite materno eu também recebi o leite da fé. Graças à vida religiosa intensa de minha mãe. Então no colo de minha mãe eu aprendi não só amar minha família mas também amar a Deus e aos irmãos. Me lembro que minha mãe sempre nos levava à igreja, nós éramos seis filhos e minha mãe se ajoelhava aos pés do santíssimo e aquilo me chamava muito a atenção. Então eu posso dizer que minha vida religiosa já começa nesse ambiente familiar, eu não posso definir um ano mas as coisas de Deus já começavam a me dar gosto eu começava a saborear Deus através da minha família como também através da vida da minha comunidade.

Frisson: E sobre virar padre. Era uma certeza de criança ou foi uma decisão ‘tardia’?

Padre Eugênio: Após ter recebido essa série num ambiente familiar eu posso dizer que desde criança eu já tinha esse desejo mas esse desejo se complementou quando eu cheguei aos doze anos, quando eu fui convidado pra vir estudar aqui em Fortaleza no colégio Santo Inácio e a convivência com os padres nesse ambiente religioso aumentou ainda mais esse desejo de entregar minha vida a missão, a causa do evangelho na igreja.

Frisson: Já se imaginou fazendo exercendo outra profissão? 

Padre Eugênio: Eu nunca me imaginei fora do sacerdócio. Sacerdócio pra mim sempre foi uma meta e uma vocação primeira. E me sinto muito feliz como padre. Padre. Ser padre me realiza muito como pessoa, como cristão. E como igreja. Então eu agradeço muito a Deus e se acreditasse em reencarnação eu diria, se fosse voltar novamente, eu desejaria ser padre.

Frisson: O senhor é diretor do Mosteiro dos Jesuítas. Quando começou a frequentar o local e como foi o seu crescimento até diretor? 

Padre Eugênio: O Mosteiro dos Jesuítas é o coração da província dos jesuítas no nordeste do Brasil. Aquela casa é centenária. Aquela casa foi o centro de formação de todos os jovens jesuítas. Então ao sair do Santo Inácio eu recebi essa missão que levo com muito carinho porque sei que ali há muitas vidas doadas, muitas vidas entregues por amor a Deus, aos irmãos e à igreja. Está hoje no mosteiro como diretor daquela casa no seu centenário é um privilégio e um presente de Deus.

 

Frisson: O senhor também é mestre em teologia. Pode falar mais sobre sua experiência no Mestrado e sobre sua dissertação? 

Padre Eugênio:A minha dissertação fala de um Deus que sofre por amor. E não existe vida humana sem sofrimento. O sofrimento é inerente à condição humana. E eu comecei a perceber que só um Deus que passa pelo sofrimento é capaz de perceber e também ajudar aqueles que sofrem. Na cruz Deus se mostra sofredor. Deus se mostra na intimidade profunda, com todo o sofrimento humano. Então a tese principal do meu mestrado foi isso. Jesus, Deus assumiu o sofrimento humano.

Frisson: Pretende continuar os estudos e fazer doutorado? 

Padre Eugênio: Eu até pretendia, mas a idade já se aproxima e eu acho que a bagagem que eu tenho já me dá elementos suficientes pra ajudar o povo de Deus na sua caminhada. Tenho muito receio de me preencher de tantos títulos mas esses títulos não são colocados a serviço dos outros então eu prefiro ficar por aqui já com este mestrado que foi pra mim um grande presente de Deus e um grande presente também da minha congregação.

Frisson: Como a religião se conecta com a espiritualidade? Diria que são sinônimos? 

Padre Eugênio: Nem sempre uma espiritualidade supõe uma religião, mas toda religião supõe uma espiritualidade. Então, espiritualidade significa ser cheio do espírito, do ânimo, da força de Deus. Eu acredito que toda religião tem que alimentar a espiritualidade. E toda espiritualidade deveria estar presente no coração religioso.

Frisson: O que exatamente significa o catolicismo para você? 

Padre Eugênio: Catolicismo significa universal. Se não é universal não é católico. Então a igreja ela é católica porque ela leva uma mensagem a todos os povos independente de raça, de cor, de sexo. Ela é universal porque ela chega com uma mensagem de esperança, essa esperança que há no coração de todo homem e de toda mulher que é também o desejo de ir do encontro com a verdade e com o absoluto que é Deus. O católico a igreja é católica porque ela é universal. Por isso que a igreja ela ultrapassa os muros de Roma e vai até os confins do mundo.

Frisson: O papa atual tem chamado atenção por ter uma visão mais ampla das mensagens da bíblia, incluindo em relação a homossexuais. Qual a sua visão sobre essa abertura? 

Padre Eugênio: A igreja é mãe e como mãe tem que estar aberta a todos os seus filhos. Eu não acredito numa igreja de portas fechadas. Isso que o Papa Francisco tanto frisa. Todos somos filhos de Deus. Deus gosta do pecado mas ama profundamente o pecador. E quem não tem pecado atire a primeira pedra. A igreja nunca foi feita de santos, de perfeitos. Geralmente a porta que Deus usa para aproximar do nosso coração são as nossas, então nós acreditamos que a igreja, essa casa mãe que acolhe todos os seus filhos para o bem e para a salvação de todos.

Frisson: O senhor também é colunista. Qual sua intenção com os seus textos? 

Padre Eugênio: Minha intenção é levar um pouquinho de esperança, de amadurecimento na fé em para tantas pessoas que me acompanham. Eu acho que a fé é sempre um processo que na caminhada deve amadurecer, deve crescer e deve também fazer com que as pessoas descubram a beleza, ninguém ama aquilo que não conhece, é conhecendo a fé que a gente amadurece e cresce no segmento de Jesus. 

Frisson: Em tempos sombrios, não é incomum pessoas questionarem sua fé. Qual mensagem possui para essas pessoas?  

Padre Eugênio: Uma fé que não é questionada não é amadurecida. Uma fé onde não há dúvida não há crescimento. Então nos momentos escuros, nas noites escuras a gente sempre se questiona sobre a nossa fé e sobre a proximidade de mais mas esses tempo devem ser pra nós momentos para a gente intensificar e permanecer mesmo sem entender mesmo sem explicar mesmo sem aceitar porque depois de toda noite escura há sempre um sol e um novo amanhecer.

Frisson: Há uma série de pessoas que atuam e falam em nome da religião. Mas qual a principal mensagem da bíblia acredita que precisa ser repassada? 

Padre Eugênio: A primeira mensagem da Bíblia é aquela que Dalai Lama nos diz quando perguntaram pra ele qual é a melhor religião? A melhor religião é aquela que nos faz melhor do que nós somos. A religião tem um papel de nos transformar em instrumentos de Deus instrumentos de acolhimento, de perdão, de fé e de sonhos. Então a religião nunca deve ser muro. A religião deve ser sempre ponte, uma religião que divide não é uma religião que vem de Deus, o pai da divisão é o Diabo. Deus é o pai da união e da fraternidade.

 

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