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Presidente da Fiec e Nordeste Forte, Ricardo Cavalcante discute sobre indústria e sustentabilidade

Acreditando em uma gestão baseada na sustentabilidade e se baseando nos últimos meses na luta contra a Covid-19, o executivo conversou com a Frisson sobre suas expectativas e objetivos

Foto: Divulgação

Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), da Associação Nordeste Forte e do Sindicato das Indústrias da Extração de Minerais Não Metálicos e de Diamantes e Pedras Preciosas, de Areias, Barreiras e Calcários no Estado do Ceará (Sindmierais), o empresário Ricardo Cavalcante tem uma longa trajetória como executivo no currículo. Acreditando em uma gestão baseada na sustentabilidade e se baseando nos últimos meses na luta contra a Covid-19, o executivo conversou com a Frisson sobre suas expectativas e objetivos, e revisitou sua trajetória industrial. Confira a entrevista: 

Frisson: O senhor é formado em Gestão Financeira. Era a área que sem queria? O que te atraiu na área quando jovem? 

Ricardo Cavalcante: Houve um tempo em que trabalhei na área financeira de um banco estatal, e desde cedo entendi que precisamos conhecer a fundo tudo o que fazemos, compreender todas as nuances técnicas e práticas, pois só assim conseguiremos cumprir com o nosso papel de forma assertiva e entregar sempre os melhores resultados.

Frisson: O senhor já trabalha há muito tempo com entidades industriais e afins. Pode fazer uma revisão de sua trajetória?

Ricardo Cavalcante: Comecei a minha carreira industrial como sócio-diretor de duas das maiores empresas do segmento de extração e beneficiamento de brita, uma no Ceará e outra no Maranhão. Atualmente sou sócio-diretor da maior produtora de areia industrial em atividade no estado do Ceará.

E quando entrei para o movimento associativista da indústria, o fiz por meio do Sindicato das Indústrias de Britagem do Estado do Ceará (Sindibrita). Fui seu presidente por três mandatos: de 1993 a 1996; de 1999 a 2003; e de 2009 a 2012. Também fui diretor e vice-presidente da Anepac – Associação Nacional dos Produtores de Areia e Brita do Brasil entre os anos de 1999 e 2003; presidente da Câmara Setorial da Mineração do Estado do Ceará de 2011 a 2012; diretor do Centro Industrial do Ceará (CIC) em quatro gestões, entre os anos de 2001 a 2004, e de 2012 a 2014.

Atualmente sou presidente do Sindicato das Indústrias da Extração de Minerais Não Metálicos e de Diamantes e Pedras Preciosas, de Areias, Barreiras e Calcários no Estado do Ceará (Sindmierais), para o mandato de 2018 a 2022.

Especificamente no contexto do Sistema FIEC, integrei a Diretoria da Federação entre os anos de 1999 e 2002; fui Diretor Administrativo Adjunto entre os anos de 2010 e 2014; como representante da FIEC, foi Membro Titular do Conselho Deliberativo do Sebrae/CE, durante os anos de 2017 a 2018; ocupei o cargo de Diretor Administrativo da FIEC, durante o mandato de 2014 a 2019; e em 2018 eu fui eleito presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/CE para o quadriênio 2019 a 2022.

No dia 16 de abril de 2019, eu fui eleito, por unanimidade de todos os Sindicatos filiados à FIEC, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC) para mandato que se estende até 2024, tendo tomado posse no dia 23 de setembro daquele ano.

Frisson: Além de presidente da Fiec, o senhor também é presidente da Associação Nordeste Forte. Pode falar um pouco sobre a Associação? 

Ricardo Cavalcante: Associação Nordeste Forte, é uma entidade que congrega todas as Federações de Indústria dos nove estados da Região Nordeste. Ela foi criada em 29 de novembro de 2016, com o propósito de promover ações voltadas para o desenvolvimento socioeconômico do Nordeste; contribuir para a competitividade das indústrias nele instaladas e fazer com que a economia regional cresça de forma sustentável. Trabalhamos de forma integrada, envolvendo as estruturas das nove federações, na busca e construção de soluções político-institucionais, capazes de contribuir de forma efetiva para a redução das desigualdades regionais e, em consequência, tornar o Nordeste cada vez mais forte e pujante.

A Associação tem o compromisso de mostrar o Nordeste como um celeiro de oportunidades e realidades, valorizando a criatividade do nosso povo, a nossa capacidade de trabalho e coragem de empreender. Ressaltar o nosso potencial de riquezas naturais e humanas, que nos dão um dinamismo econômico único no mundo e nos credenciam como um território atrativo a investimentos globais.

Frisson: Já se passaram dois anos desde que assumiu a presidência da Fiec. Quais foram seus focos e conquistas nesses anos? 

Ricardo Cavalcante: Assumimos a gestão do Sistema Fiec com uma expectativa, mas pouco tempo depois precisamos enfrentar o maior desafio de que se tem notícia, que foi combater os impactos causados pela pandemia da Covid-19, não apenas na indústria, mas em todo o conjunto da sociedade.

Os nossos planos iniciais estavam alinhados com o conceito de inovação. Queríamos explorar ao máximo as competências já existentes na federação e dar ainda mais dinamismo à organização, de modo a podermos entregar às indústrias e à sociedade uma instituição sintonizada com os novos tempos. Elegemos algumas bandeiras, entre as quais se destacavam a transformação digital, a interiorização das ações e a internacionalização da nossa indústria. E para tanto, traçamos um programa de investimentos que pudesse contemplar todas essas bandeiras. Começando pelo Observatório da Indústria da FIEC, que recebeu um aporte significativo de recursos, levando-o a se tornar referência nacional em armazenamento e tratamento de dados com uso de inteligência artificial. Hoje somos parceiros do Ministério da Economia, com que firmamos contrato para trabalhar a redução do Custo Brasil. Contratamos uma das maiores consultorias em tecnologia da informação do mundo, o Gartner, e adquirimos uma das maiores plataformas de CRM do mundo, a Salesforce. Também investimos em novos e modernos equipamentos, com a aquisição de centenas de computadores atuais e projetados para dar maior celeridade aos processos e serviços de todas as nossas casas – FIEC, SESI, SENAI, IEL e CIN, além do próprio Observatório. Todas as nossas unidades operacionais receberam investimentos em infraestrutura, equipamentos e capacitação dos seus quadros. Portanto, nos preparamos para sermos uma das mais inovadoras e atuantes federações do país. 

Porém, veio a pandemia. Mas mesmo diante dela não ficamos parados um só instante. Imediatamente reunimos a nossa diretoria e os nossos gestores para pensar soluções que permitissem, simultaneamente, manter a chama da indústria acesa, e dar a nossa contribuição à sociedade como um todo, ajudando a preservar a vida das pessoas. E nesse momento me surpreendi positivamente ao ver a forma voluntária como os colaboradores do Sistema FIECE se entregaram ao trabalho de construção de soluções para minorar os impactos da pandemia.  O SESI e o SENAI se desdobraram na produção de centenas de milhares de EPIs (máscaras em tecido, máscaras faciais, aventais etc.), na produção de dezenas de milhares de litros de álcool em gel, no conserto de centenas de respiradores para os hospitais públicos, na criação e desenvolvimento do ELMO e no treinamento de profissionais de saúde. O IEL se uniu aos Sindicatos para coletar e distribuir dezenas de milhares de cestas básicas entre famílias carentes. Criamos a conta “FIEC Salvando Vidas Covid-19”, que chegou a arrecadar R$ 12 milhões que foram utilizados para aquisição e conserto de respiradores, produção de EPIs, e realização da maior pesquisa de soroprevalência já feita no país.

Essa tem sido uma luta árdua. Estivemos o tempo inteiro ao lado dos Governos estadual e municipal em todos os momentos, seja participando de grupos de trabalho ou disponibilizando as nossas estruturas para o desenvolvimento de soluções. Quando ficou definido que a Indústria estaria na fase inicial da retomada, nós colocamos o Observatório da Indústria à disposição dos governos para ajudar na construção de todos os protocolos essenciais a uma retomada gradual e segura. Internamente desenvolvemos manuais e cartilhas com orientações sobre a retomada e o respeito às normas de saúde e segurança do trabalho. 

E quando veio a segunda onda, mantivemos o nosso compromisso. Quando vimos a necessidade de viabilizar o processo de imunização, providenciamos transporte adequado – Taxi e Uber – para pessoas idosas que não têm como ir e vir em segurança aos postos de vacinação; Reativamos a Central de Manutenção de Ventiladores e Equipamentos de Respiração, que no ano passado já havia restaurado 300 equipamentos, e nos estruturamos para recuperar mais 200 ventiladores pulmonares e 150 bombas de infusão, que estão sendo entregues às unidades hospitalares do Estado; Atendendo a um pedido do governo do Estado, movimentamos a classe industrial e arrecadamos recursos que permitiram a instalação de 299 novos leitos de enfermaria e UTI, para diversas unidades de saúde pública no Ceará. Também realizamos a campanha “Unidos a Favor da Solidariedade”, que nos permitiu arrecadar 180 toneladas de alimentos, que forma distribuídos junto a famílias em situação de vulnerabilidade.

Enfim, ao longo de todo esse tempo nós mantivemos o Sistema FIEC, o SESI, o SENAI, o IEL e todos os nossos 40 Sindicatos, trabalhando coletivamente para vencer esse desafio que tanto abalou a vida das pessoas em todo o mundo. 

Frisson: A Fiec possui muitas parcerias com o Governo Estadual, como o Hub de Hidrogênio e o movimento Respira Ceará. Como o senhor avaliaria as parcerias? 

Ricardo Cavalcante: O mundo caminha para uma cultura de sustentabilidade. Quem mantiver os seus empreendimentos apoiados no consumo de energia derivada da queima do carvão e do petróleo, que são grandes emissores de gás carbônico, será deixado para trás. Precisamos fortalecer cada vez mais o uso de energias limpas. E neste sentido, o Hidrogênio Verde aparece como a melhor opção para um futuro próximo. E o Ceará, que há tempos vem se destacando na geração de energia a partir de fontes renováveis como solar e eólica, não podia deixar passar essa oportunidade de transformar o Ceará em fornecedor global deste que é considerado o combustível do futuro. Daí termos assinado memorando de entendimento junto ao Governo do Estado e a Universidade Federal, nos comprometendo a colaborar no fortalecimento da cadeia do hidrogênio verde. Com isso acreditamos estar contribuindo para ver o Ceará como exemplo de competência, inovação e compromisso com a sustentabilidade, e abrindo uma nova janela de oportunidades que haverá de beneficiar a todos, pois o futuro da energia é verde.

Frisson: Como é o setor industrial no Ceará? E como é a participação do Governo estadual? Há muito o que percorrer? 

Ricardo Cavalcante: O setor industrial cearense é um forte indutor do desenvolvimento, tanto pela produção de bens de consumo essenciais à melhoria da qualidade de vida das pessoas, quanto pela capacidade de geração de emprego e renda para a população e seu impacto positivo nos demais setores econômicos. 

O Ceará acolhe cerca de 5% da população brasileira e responde por pouco mais que 2% do PIB nacional. Se quisermos reduzir este gap precisamos agregar cada vez mais valor à nossa economia e melhorar a distribuição territorial da geração de riqueza. E só vamos conseguir isso se trabalharmos em união com o Estado, algo que a FIEC tem protagonizado desde sempre. E mais recentemente, temos tido uma relação harmônica com o Governado Camilo Santana e todo o seu corpo executivo, com a qual trabalhamos em sintonia na construção de soluções estratégicas, equações logísticas, partilha de informação e conhecimento, e desenvolvimento de estruturas operacionais que tragam maior competitividade para a marca Estado do Ceará, o que beneficia a todos, indiscriminadamente. Há, portanto, entre o Estado e a Indústria, uma relação de mútuo benefício, que só tem trazido crescimento para a economia do nosso estado e ampliação dos horizontes para a população cearense.

Claro que sempre haverá muito a percorrer, pois a cada nova solução que criamos e aproveitamos, novas janelas de oportunidade se abrem.

 

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